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DAVID LYNCH E SUA OBRA-PRIMA!
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O filme inicia-se com o retorno de Jeffrey Beaumont do colégio a sua cidade natal, pois o pai houvera sido hospitalizado por causa de um ataque cardíaco e o jovem viera para ficar com a família. Logo que sai de casa para visitar o pai no hospital, Jeffrey encontra uma orelha decepada sobre a grama, leva-a até a polícia, quando o detetive John Williams, um vizinho de sua família, lhe pede para ficar calado sobre o fato.
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Jeffrey
(Kyle MacLachlan)
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Jeffrey, como todo jovem, é curioso e a última coisa que pensa seria esquecer o assunto. É quando se encontra com Sandy, filha do detetive Williams, e fica sabendo através dela sobre uma investigação no qual o pai está envolvido. Trata-se do caso envolvendo uma cantora de um “night club” que possivelmente teria um caso com um suspeito de tráfico de drogas. Ao ficar sabendo que a cantora mora num apartamento próximo do local onde ele achou a orelha decepada, a curiosidade de Jeffrey aumenta e chega ao ponto que contagia Sandy, e então eles decidem fazer sua própria investigação.
Jeffrey entra em contato com a tal cantora, Dorothy Vallens, e dizendo-se ser um dedetizador (ele estava munido de um equipamento de dedetização), e a convence a dedetizar a sua cozinha. Quando vai realizar o serviço, ele se apodera da 2ª via da chave do apartamento e retorna à noite para vasculhar o local e tentar achar alguma evidência que ligue a vida da cantora a orelha decepada. Nisso Dorothy retorna do trabalho e Sandy que havia ficado no carro esperando por Jeffrey, o avisa. Jeffrey ao invés de sair do apartamento resolve se esconder dentro de um armário que havia no quarto. A cantora chega, troca-se e se prepara para dormir quando ouve um barulho no armário e munida de um facão abre-o e encontra Jeffrey.
Como Jeffrey não consegue dar uma resposta lógica pelo fato de estar ali, ela o humilha e obriga-o se despir. Nisso batem à porta, Dorothy pede-lhe que se esconda no armário. É Frank Booth, um homem violento, que Jeffrey percebe ter total controle sobre ela. Jeffrey fica impotente ao assistir aos maus tratos que ela sofre, sendo que por fim o homem a violenta e vai embora ameaçando a pobre mulher. A única coisa que Jeffrey consegue fazer após o ocorrido é colocá-la na cama e tentar consolá-la.
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Jeffrey e Dorothy
(Isabella Rossellini e Kyle MacLachlan)
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No dia seguinte e no próximo, munido de uma câmera, Jeffrey fica de tocaia em frente à casa de Frank e descobre que seja o que for que o homem esteja metido, não está sozinho. Ao se encontrar com Sandy conta-lhe suas suspeitas.
Jeffrey retorna ao apartamento de Dorothy e lhe diz que já sabe que ela é casada com tal de Don e que é mãe de um garotinho. Porém, bem mais do que isso, o marido e o filho de Dorothy são a causa de sua total submissão a Frank, já que a cantora é obrigada a fazer as vontades do maníaco porque tem medo que alguma violência aconteça com eles, já que são mantidos como reféns.
Enquanto conversam, são surpreendidos por Frank e quatro capangas, que os obrigam a abandonarem o apartamento e a entrarem num carro, são levados então, a casa de Ben, um poderoso traficante, onde se encontra o filho de Dorothy em cativeiro. Depois que abandonam o local, Frank manda parar o carro na estrada, e após socar duramente o rapaz, o abandona caído no acostamento.
Logo que se recupera, Jeffrey se apressa em ir a delegacia a procura do detetive Williams, porém, ao perceber, em tempo, que um dos colegas de trabalho do detetive era um dos capangas de Frank, bate em retirada, em completo pavor. Vai direto a casa do detetive e encontrando-o lá, conta-lhe tudo o que sabe, e lhe entrega todas as fotos tiradas de Frank e seus capangas, inclusive do tal colega de Williams, o detetive Gordon. O detetive Williams lhe garante que vai tomar todas as providências necessárias e Jeffrey vai mais aliviado para casa.
Dias depois, acontece um fato, que diretamente não tem nada a ver com o caso, mas que apressa a conclusão do drama: Jeffrey e Sandy saem de uma festa e são perseguidos por um carro, acabam, durante a perseguição, parando em frente a uma casa, de onde sai Dorothy, nua e totalmente desorientada. Aí descobrimos que o tal perseguidor é um ex-namorado de Sandy, que não se conforma ao vê-la junto com outro rapaz, no entanto, ao ver Dorothy se lançar nos braços de Jeffrey, desculpa-se e vai embora.
Refeitos da “intromissão” do ex-namorado ciumento de Sandy, eles levam Dorothy a casa do detetive Williams, não o encontrando, ligam pedindo uma ambulância para que a cantora fosse atendida. Quando chegam ao hospital entram em contato com a polícia pedindo que avisem o detetive sobre o ocorrido, Williams e seu grupo, ao estar a par da situação, saem finalmente em captura dos marginais.
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Frank e seu fetiche.
(Dennis Hopper)
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Bem, este é um resumo, digamos, “resumido” do enredo, para que ninguém diga que tirei o prazer de alguém, que por ventura ainda não assistiu ao filme, assisti-lo. E depois, espero que o resumo tenha um gostinho de quero mais, para quem não viu o filme, se decida a ver esta obra-prima moderna, que ora pode ser vista como um filme de suspense, um neo-noir, mistério, etc; onde a trama é uma mistura que envolve sexo, violência, sadomasoquismo, de forma tão densa, que o espectador fica preso à cadeira do início até o final do filme.
Mas o filme não é só isso, Dorothy, por exemplo, não é apenas uma vítima atroz nesta história, Isabella Rossellini consegue compor o personagem de forma tão enigmática que a misteriosa cantora é uma verdadeira femme fatale no corpo de uma sofrida mulher.
Blue Velvet tem uma áurea surrealista e um toque de avant garde, que desenvolvem vários aspectos como mutilação, erotismo, obsessão sexual etc, que o transforma numa obra única, e por isso mesmo num cult, que, apesar de seus inúmeros detratores, tem seu lugar assegurado entre seus também inúmeros admiradores.
Não há como se referir a este filme sem falar de seu diretor, David Lynch, e vice e versa. E isto, apesar de Lynch ter feito O Homem Elefante (The Elephant Man, 1980) e Coração Selvagem (Wild at Heart, 1990), por exemplos, mas Veludo Azul é o cartão de visitas do diretor, sem dúvidas.
Por falar em Lynch, uma coisa que não concordo é o que parte da crítica diz que David Lynch é uma espécie de Quentin Tarantino, o que não tem nada a ver. Já que cada um tem uma identidade cinematográfica totalmente original e particular; Lynch mostra nesse filme uma maturidade num tema perigoso, que deixa muita gente em dúvida, se gosta ou detesta o filme. Sobre a comparação com Tarantino, vale dizer que existe uma grande diferença entre ambos, sendo que Lynch é menos violento do que Tarantino, mas é mais inquietante, perturba mais. E neste filme, excepcionalmente, o diretor consegue alcançar a sua mais alta dose de inquietação ao nos brindar com um enredo com diálogos ácidos e sarcásticos onde a doce vida da cidade do lugar é "sacudida" pelas loucuras psicopatas de sexo, sedução e submissão. Onde a mente doentia de um traficante de drogas, que mantém uma relação sadomasoquista com uma bela cantora de cabaré, envolve, entre outras pessoas, um jovem ingênuo num "jogo" sórdido e perverso.
Aliás, vale dizer que o lado inocente do enredo são os personagens Jeffrey Beaumont (Kyle MacLachlan) e Sandy Williams (Laura Dern), que contrabalançam as perversidades da história.
Por fim, além do belo roteiro do próprio Lynch, são destaques a soberba fotografia de Frederick Elmes, onde se percebe o relevo das cores vermelho e azul (destaque do fetiche de Frank Booth), trilha sonora magnífica com destaque “Blue Velvet” de Bernie Wayne que dá título ao filme e “Love Letters” de Victor Young, por exemplos.
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Trailer do filme.

Por fim, mas por fim mesmo, cabe dizer a manjada frase ao final de uma conversa sobre uma obra como esta: Blue Velvet é uma obra-prima. Muito embora, não seja para todos os gostos!